Enquanto assistia Ricardo Mello, apenas um de sete brasileiros a ter um título de ATP no currículo, disputar a sua última partida como profissional no Brasil Open, nesta segunda-feira à noite, comecei a tentar lembrar de alguns momentos marcantes do tenista. Rapidamente me dei conta de que estive presente durante boa parte da carreira de Mello, inclusive quando ele jogou a primeira partida como profissional, contra o Guga, em um Challenger em Campinas, em 1996. Foram mais de 15 anos vendo Mello deixar o Brasil entre os top 100 durante diversas temporadas, chegar ao melhor ranking da carreira e mostrar dedicação e amor ao esporte como poucos que vemos hoje em dia.
Lembro claramente do jogo contra o Guga em Campinas. Lembro de acompanhar os resultados de Mello no Circuito COSAT, no ano seguinte. Era a estreia da Tennis View.
E em 1998 de vê-lo jogando os Grand Slams juvenis europeus. Inclusive – pena que está em slide – tenho foto da nossa fotógrafa Cynthia Lum, do Mello jogando em Wimbledon. Naquele ano, perdeu para o Fernando Gonzalez em Roland Garros e para o Federer, no Orange Bowl.
Nessa época lembro do Larri Passos, o técnico do Guga, falando para prestar atenção no juvenil canhoto, um novo Meligeni.
Mello passou os anos seguintes jogando Futures e Challengers, na transição para o profissionalismo e em 2001 estreou no Brasil Open alcançando as quartas-de-final. Alguns meses antes ele havia ganhado o primeiro de uma série de 15 Challengers, em Campos do Jordão.
Os dois anos seguintes foram dedicados aos torneios Challengers com alguns ATPs, até que em 2004 veio o grando salto.
Depois de perder para Juan Monaco, no Aberto de Sp, jogou o primeiro Grand Slam, o Australian Open, perdendo para Nalbandian. Passou o qualifying do Masters 1000 de Miami, jogou Roland Garros, venceu o Challenger de Gramado e foi jogar o US Open.
Ganhou de Chela, de David Sanchez e alcançou a Terceira rodada do Grand Slam, perdendo para Tommy Haas. O jogo passou na TV americana que chamava o brasileiro de Mello Yellow.
Na semana seguinte ele entraria para a história ao conqusitar o título do ATP de Delray Beach, com vitórias sobre Mario Ancic e Mardy Fish, antes de derrotar Vincent Spadea na final.
A boa fase continuou com as quartas-de-final em Xangai – venceu Tipsarevic no caminho.
Veio 2005 e a semifinal do Brasil Open, em que ele esteve perto de ganhar de Rafael Nadal. Assisti o jogo ao lado de Guga e do empresário de ambos, na época, Paulo Carvalho, lá em Sauípe.
Também lembro claramente de imagens dessa partida.
Mello jogou poucos Challengers e só foi voltar a jogar bem em Los Angeles, meses depois, alcançando as quartas-de-final, em que perdeu para Domink Hrbaty, com cinco match points.
Hoje, na coletiva, Mello contou que foi o período mais difícil da carreira. “O Guga estava começando a se lesionar quando ganhei o meu primeiro ATP e além da cobrança em geral, do público, eu comecei a me cobrar. Demorei um tempo para entender que isso era normal.”
Perguntaram para o tenista na entrevista de que jogo ele perdeu que gostaria muito de ter vencido, que teria mudado a carreira. E foi o desta época, em Los Angeles. “Eu estava ganhando o primeiro set e tinha 6/1 no tie-break do segundo, contra o Hrbaty, par air à semi em Los Angeles, com uma chave boa e possivelmente jogar a final contra o Agassi.”
Aos poucos, com Fernando Meligeni como capitão, Ricardinho foi entrando para a equipe da Copa Davis e se tornando um dos homens de confiança do Brasil, por muitos anos.
Como ele mesmo relatou, se atrapalhou um pouco mentalmente na época em que alcançou o seu melhor ranking – 50º – “e se tivesse um técnico fixo, por muitos anos o mesmo, acredita que teria ido um pouco mais longe.”
Os muitos ATPs e Masters 1000 deram lugar, por uns anos, aos torneios Challengers, mas sempre que via uma oportunidade, lá estava o Ricardo Mello jogando os qualifyings dos Grand Slams.
Além de todos estes ano em quadra, levando o nome do Brasil mundo afora, ganhando Challengers e disputando os ATPs, mantendo o nome entre os top 100, Mello também pode comemorar a conquista inédita no World Team Tennis. Em 2011 ele ajudou o time de Kansas City a conquistar o primeiro título de sua história. Foi também o primeiro brasileiro a vencer tal campeonato, fundado por Billie Jean King.
O último Grand Slam que ele disputou foi o seu favorito, o US Open, no ano passado, passando o qualifying e perdendo na estreia para Greg Zemlja.
Foi uma honra assistir o encerramento da carreira de Ricardo Mello. Foi como assistir o fim de um ciclo que acompanhei desde o início.
A esperança que tenho é que com a notícia da aposentadoria, os tenistas mais novos enxerguem tudo o que Mello fez como tenista profissional, o que tudo isso representa para o tênis nacional e aprendam com o exemplo de um trabalhador, lutador e vencedor das quadras.
Precisamos valorizar os nossos raros campeões.
Obrigada, Ricardinho.
fotos de Dália Gabanyi