A primeira coisa que meio veio à cabeça quando vi que o sorteio do Grupo Mundial da Copa Davis colocou o Brasil diante dos Estados Unidos, foi aquele estádio lindo, enorme, montado em Ribeirão Preto, há quinze anos, quando enfrentamos os americanos, na primeira rodada do GM.
Foi lá que Jim Courier, hoje o capitão dos Estados Unidos e na época o principal jogador do time, descobriu Gustavo Kuerten, poucos meses antes do brasileiro ganhar o histórico Roland Garros de 1997.
Foi lá em Ribeirão Preto que lançamos a Tennis View, ainda com formato de jornal e com apenas duas cores. Era o prenúncio de uma nova era no tênis brasileiro. Havia algo a mais no ar naquele evento.
O confronto, antes de começar, já era rodeado de surpresas e expectativas. Andre Agassi, que inclusive aparece na capa da revista, era esperado no interior paulista, foi escalado pelo capitão Tom Gullikson, mas não apareceu.
Os Estados Unidos jogaram então com Courier, Malivai Washington, Alex O’Brien e Richey Reneberg, um dos maiores duplistas da época.
Era a primeira vez que ia a um confronto de Grupo Mundial. O país estava fora há três anos e eu tinha visto apenas confrontos zonais e play-offs. Presenciei a inesquecível disputa com a Áustria, meses antes, em que Thomas Muster fora expulso depois de chamar o Brasil de país de macacos.
Mas, estar em um “tie” do Grupo Mundial era novidade. E tudo muda. As exigências da ITF são outras, o nível dos jornalistas que cobre o evento aumenta e lembro de ter imprensa estrangeira cobrindo o Brasil x EUA, era uma equipe da ESPN lá de fora. Na época, o seu Ivo Simon era o assessor de imprensa da Copa Davis e tenho foto com todos os jornalistas, que ele sempre fazia questão de tirar. Pena que não estou encontrando agora. Lembro direitinho da sala de imprensa montada no Country Clube de Ribeirão Preto, com as divisórias e se bobear, se procurar bastante ainda devo ter essa credencial guardada comigo. Conheci e comecei amizades com colegas jornalistas naquele início de 1997 que mantenho até hoje.
Fazia um calor de derreter sola do tênis de muita gente. Na quadra então, não dava para aguentar se não fosse na sombra.
E os jogos começaram, com Guga, então 85º do mundo, enfrentando Malivai Washington, 24º. E Guga venceu o primeiro set, mas o americano acabou fechando a partida por 3/6 7/6(6) 7/6(3) 6/3. Em seguida, Meligeni 90º entrou em quadra para enfrentar o ex-número um do mundo, Courier, na época o 22º e fez o bicampeão de Roland Garros suar muito para ganhar por 3/6 6/1 6/4 4/6 6/4.
Com 2×0, os Estados Unidos pretendiam acabar com o confronto no sábado, com uma das melhores duplas da época, Renenberg e O’Brien, em que ambos foram número um do mundo. Mas a performance de Guga e Jaime Oncins, vencendo por 6/2 6/4 7/5, surpreendeu os americanos e deixou a torcida em polvorosa em Ribeirão.
O confronto terminaria no dia seguinte, com vitória dos EUA, depois de Courier ganhar de Guga, por 6/3 6/2 5/7 7/6(11) e O’Brien fechar a disputa ganhando de Meligeni, por 7/5 7/6(4).
O Brasil não ganhou, mas o confronto ficou marcado acredito que para todos que tenham participado dele, seja trabalhando ou assistindo. Guga, em seu mural de fotos que tinha em casa, guardava uma foto da equipe brasileira deste evento, no meio a tantas outras de glória.
Courier afirmou diversas vezes depois que a primeira vez que se impressionou com Guga foi naquele confronto de Ribeirão Preto.
Do desafio com o time americano, o Brasil acabou permanecendo no Grupo Mundial até 2003 e meses depois, com a vitória de Guga em Roland Garros, o tênis do país mudava para sempre.
Dezesseis anos depois, os Estados Unidos receberão o Brasil em um confronto válido também pela primeira rodada do Grupo Mundial e Courier, o grande destaque, liderando o time como capitão.