Há tempos, ou melhor, há anos que não chegávamos nesta fase da temporada com tantas dúvidas. Com Roland Garros marcado para começar daqui a uma semana, pela primeira vez em muito tempo, Nadal não chegará à capital francesa com uma série de vitórias seguidas e um número de títulos impressionantes. Mas, não é só ele. Os outros tenistas tops também não dominaram os últimos meses no circuito. Por isso, este Roland Garros, mesmo antes de começar, já promete ser um dos mais interessantes dos últimos tempos.
Claro que não dá para dizer que o oito vezes campeão de Roland Garros não é um dos favoritos a erguer o Trophee des Mousquetaires, ainda mais em um Grand Slam e em jogos de cinco sets. Qualquer um que ganhou um torneio oito das últimas nove vezes será sempre favorito, mas a condição é bem distinta dos anos anteriores. Mesmo tendo sido campeão do Rio Open e do Masters 1000 de Madri, Nadal “não sobrou” em quadra, passou sim muita dificuldade e precisou de toda a sua força mental para vencer jogos que antes ganhava em menos de uma hora.
Novak Djokovic derrotou o número um do mundo Nadal na final de Roma e foi até a semi em Monte Carlo. Não jogou em Madri com lesão no punho. Apesar de ter vencido o Rei do Saibro no Foro Itálico, Djokovic também não teve vida fácil no torneio. Precisou vencer diversos jogos em três sets, mas segue confiante para Paris, onde tentará vencer o único torneio do Grand Slam que falta em seu currículo.
Roger Federer pouco jogou na temporada de saibro. Foi vice-campeão em Monte Carlo, pulou Madri para acompanhar o nascimento dos gêmeos Leo e Lenny e em um dia de muito vento na capital italiana, perdeu na estreia em Roma. Chegará em Roland Garros com menos jogos do que está acostumado, mas jogando muito melhor do que em 2013.
Stanislas Wawrinka ganhou o primeiro Masters 1000 da carreira em Monte Carlo, mas depois não conseguiu avançar nem em Madri, nem em Roma. O campeão do Australian Open chegará a Porte DÁuteil com muitas dúvidas na cabeça.
David Ferrer, também acostumado a brilhar na temporada de saibro, não chegou a ter uma gira sul-americana fantástica, apesar do título em Buenos Aires. Foi à semi em Monte Carlo e Madri, mas parece que ainda falta algo para o jogo do vice-campeão de Roland Garros do ano passado chegar onde estava 12 meses atrás.
Andy Murray até que fez um bom torneio em Roma, mas também pouco jogou no saibro e deve estar com a cabeça mais voltada para Wimbledon do que a terra vermelha de Paris.
Tomas Berdych fez uma temporada de saibro sem grandíssimos resultados. Todos sabem que a “terre battue” não é o seu piso predileto, mas o checo não chegará a Paris no auge da forma. Ele até foi vice-campeão do Portugal Open, mas não foi o suficiente para elevar seu nível de jogo.
Os novatos que brilharam nas últimas semanas, Grigor Dimitrov, Kei Nishikori e Milos Raonic, já não tão novos assim, mas pertencentes a uma geração diferente a dos big 4, tem a chance de mostrar a que vieram. Mas, será que eles estão prontos fisicamente para duelar com os melhores em jogos de cinco sets durante duas semanas, no mais desgastante dos Grand Slams. Eles chegaram perto de bater os tops nas últimas semanas, mas no momento final foram superados pelo próprio corpo ou pela mente ainda em formação de super campeão.
A discussão em torno dos franceses sempre acontece quando chega esta época do ano. Gael Monfils, Jo-Wilfried Tsonga, Richard Gasquet, Gilles Simon e Julien Benneteau serão os nomes mais invocados nos próximos dias em Paris. Mas, será que algum deles está pronto para erguer o trofeu que pela última vez foi levantado por um francês há 31 anos, com Yannick Noah? Monfils, apesar de pouco ter jogado nas últimas semanas, acredita no seu potencial em Roland Garros. Já afirmou que cresce de produção quando joga na sua casa e que sonha com o título. Até mesmo lembrou a posição de número 66 de Gustavo Kuerten, quando o brasileiro venceu o Grand Slam parisiense pela primeira vez.
Tsonga também continua com discurso otimista, mesmo sem ter ganhado um título no saibro ou feito uma final neste 2014 na terra batida.
Gasquet nem sabe se poderá jogar. A lesão nas costas é mais grave do que se imaginava e ele só tomará uma decisão um dia antes de Roland Garros começar.
Os outros correrão por fora, bem por fora.
Os argentinos que durante anos foram destaque da temporada de saibro chegarão a Paris sem nenhum tenista cabeça-de-chave e com apenas 6 (com Ormaechea) representantes na chave principal. Não que isso seja pouco, especialmente comparado ao Brasil que vai apenas com Thomaz Bellucci e Teliana Pereira, mas para quem já teve uns 14 na chave, é quase preocupante.
E entre as mulheres, dá para imaginar alguém além de Serena Williams e Maria Sharapova brigando mesmo pelo título. Podemos falar em Li Na, mas a chinesa não teve uma super temporada de saibro, assim como a polonesa Agnieszka Radwanska.
A novata Simona Halep, agora no top 5, pode fazer bonito, mas ainda deve precisar de uns anos para vencer a Coupe Suzanne Lenglen.
Ana Ivanovic vem fazendo a melhor temporada dos últimos tempos, mas na hora final, ainda está faltando aquele plus das campeãs. O mesmo podemos dizer da compatriota Jelena Jankovic.
Flavia Pennetta ganhou Indian Wells, mas depois não avançou muito nos torneios no saibro.
Entre as francesas, Alize Cornet será o centro das atenções, seguida pela novata Caroline Garcia. Mas nenhuma delas venceu o suficiente até agora para dar esperança de título.
Pode ser que uma ou outra tenista do estilo de Carla Suarez Navarro ameace Serena ou Sharapova no início do torneio, mas não devem passar de um jogo apertado para as duas últimas campeãs em Paris.
A pergunta é quem vai conseguir ir mais longe, além de Serena e Sharapova.
E que o torneio que mais exibe o tênis arte comece!
Desta vez assistirei de casa, já sentindo falta de estar em Paris, mas pelo mais nobre dos motivos. Não, não vou cobrir a Copa do Mundo, estarei de licença maternidade.