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Roland Garros à vista

Roland Garros já começou e quando eu sair do metrô, subir as escadas e avistar as grades pretas dos portões que envolvem o complexo mais charmoso de tênis do mundo, a maioria das principais estrelas já terá disputado a primeira rodada. Mas, mesmo com o Grand Slam em andamento, essa chegada a Roland Garros é sempre especial.

Philipe Chatrier roland garros

Estou no aeroporto de Frankfurt, esperando a conexão para Paris. Se há dois dias estava difícil colocar a minha mente em Porte DÁuteil, com tantos outros compromissos distantes da terra batida francesa, agora só penso naquele momento da subida das escadinhas do metrô, com meu papel da credencial em mãos e a chegada na recepção da sala de imprensa, o encontro com diversos conhecidos e amigos e as sensações especiais que sempre voltam à mente quando entro em Roland Garros.

Apesar de já terem se passado 05 anos da despedida do Guga, 09 anos da última grande atuação dele em Paris, 12 anos do tricampeonato e 16 do primeiro título, as memórias de mais de uma década em Paris, trabalhando ao lado dele, estão frescas na minha mente.

Lembro da primeira vez que cheguei a Paris e entrei em Roland Garros. Viajei ainda de VASP e cheguei no meio daquele 1997 inesquecível.

Até da roupa que usei na comemoração no Ritz eu lembro –e  ainda uso a saia de flores azuis -. E lembro sem ter fotos. Não sei por qual motivo não tenho fotos daquela noite. Tenho fotografias do Guga com trofeu na Philippe Chatrier e do dia seguinte, uma maratona de entrevistas, encontro com a Seleção Brasileira de Futebol, no hotel Concorde de Lafayette e o Larri colocando no lobby do hotel “viver e não ter a vergonha de ser feliz…”

Quantas pessoas conheci naquele 1997  e que encontrarei dentro de algumas horas…

Acho que poderia ficar horas escrevendo histórias e lembranças de 15 idas a Roland Garros e a maioria delas marcantes. Mas, pretendo fazer isso ao longo da estada em Paris. Apesar de já terem se passado 16 anos daquele primeiro título do Guga – e me dou conta também que já são 16 anos de Tennis View – e de Nadal ser o “Rei do Saibro,” já tendo vencido 7 vezes o Grand Slam nos últimos 8 anos, cada vez que chega esta época do ano, esses momentos, apesar de pertencerem a uma outra época, na minha mente e no meu coração, parecem que foram ontem.

 

 

 

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Nadal, Isner e Tião Santos: coragem de enfrentar, em Paris e no Jardim Gramacho

 

Se na segunda-feira já estava com a sensação que Roland Garros havia de fato começado, com jogos relevantes e emocionantes, então hoje, o Grand Slam pegou fogo.

Não pude assistir o jogo inteiro do Nadal e do Isner e até agora, com o sol já nascendo em Paris na quarta-feira, não tive tempo de ler as entrevistas coletivas de ambos os jogadores, as matérias que escreveram por aí, enfim, fazer o trabalho normal de um jornalista.

Assisti os dois primeiros sets e tive que sair para um evento com o Tião Santos, na Coca-Cola. É a semana do otimismo e o Tião foi palestrar para uma seleta plateia sobre reciclagem, ao lado de Marcos Simões, vice-presidente de comunicações e sustentabilidade da Coca-cola e do economista Sergio Besseman.

Saí de casa de olho no live scores e no twitter para acompanhar o desenrolar do jogo. Lembro que quando vi o sorteio da chave e me deparei com Nadal x Isner na primeira rodada, logo pensei que poderia ser um jogo perigosíssimo pro número um do mundo.

O Larri sempre me dizia: você consegue ganhar desses caras, dos tops, numa primeira, segunda rodada, mas não quando o torneio já está no meio ou chegando mais pro fim. Aí fica bem mais difícil. Primeira rodada é sempre complicada, ainda mais em Grand Slam. Isso ficou na minha cabeça…

Escutava o debate, com um olho para o palco e o outro na tela do telefone.

Quando o Isner ganhou o terceiro set, comecei a ler os twits dos colegas jornalistas de Roland Garros e mesmo muito distante pude sentir toda a agitação que estava se passando na sala de imprensa, na tribuna dos jornalistas na quadra Philippe Chatrier, nos bastidores do circuito.

Já começavam a perguntar: será que teremos agora um novo número um do mundo? Se Nadal perder, Djokovic vira o primeiro do ranking.

O que vai ser mais marcante na carreira de Isner, ganhar do Nadal em Roland Garros ou o recorde do jogo mais longo da história?

É a primeira vez que Nadal joga uma partida de cinco sets em Roland Garros..

Ao mesmo tempo que lia os twits ouvia o que os palestrantes falavam e de repente surgiam frases do tipo: “Reciclar no Brasil, fazer parte do movimento dos catadores é ter coragem de enfrentar.” Isso porque no Brasil, 90% da reciclagem é feita pelos cataores e apenas 1% do lixo do País é reciclado. Ouvia isso e pensava, o Isner entrou em quadra hoje com coragem de enfrentar o Nadal e de arriscar.

Vivemos hoje tempos interessantes e tempos interessantes são trabalhosos. Que tempos interessantes vivemos no tênis mundial de hoje em dia.

E aí, quando a palestra estava acabando, surge outra frase importante ligada aos materiais recicláveis. “A maior das liberdades é você se libertar do medo.”

Isner se libertou do medo de enfrentar Nadal em Roland Garros, teve liberdade para jogar todo o tênis que sabe. Os catadores tem liberdade e não tem medo de ninguém. Vão atrás do que querem, do sonho de um dia após o outro ter uma vida melhor e com isso transformam o país.

Ouvia as frases, pensava no jogo, lia os twits e por um momento fiquei até preocupada, mas depois, quando Nadal quebrou o saque do americano no quarto set, deu a sensação de que não perderia mais o jogo.

Saí do evento em Botafogo, no Rio e a partida não havia acabado. Fui para Jardim Gramacho, para outra ação com o Tião. Entregar cestas básicas que ele ganhou ao participar de um evento do Pão de Açúcar, para 100 famílias que tem integrantes sofrendo de tuberculose.

Encontramos o pessoal do Pão de Açúcar logo na entrada da ACAMJG (Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis) e fomos com o Tião entregar algumas cestas bem na entrada da rampa do maior aterro sanitário do mundo a céu aberto. É um dos lugares mais chocantes que já estive na minha vida. Não pelo odor, sujeira, etc, mas sim por ver que pessoas que trabalham, que convivem conosco diariamente, vivem em condições como aquelas. Lá, olhando para os barracos eu não conseguia mais checar o telefone para saber do resultados do jogo. Parecia estar em outro mundo, bem mais distante do que os aproximadamente 5 mil km que separam a França do Brasil. Ou será que a realidade de Roland Garros é irreal?

Enfim, de volta ao centro do Rio de Janeiro, vi que Nadal havia vencido.

Como disse, por um certo momento temi pelo espanhol, mas no fim, foi um dia de emoções em Roland Garros, para incendiar o torneio logo no terceiro dia de disputas. Foi um dia de chamar a atenção das pessoas para o trabalho dos catadores e de mostrar que também como pequenas ações podemos fazer muitas coisas, mas que a principal delas, seja em Jardim Gramacho ou em Roland Garros é ter a coragem de enfrentar e se libertar do medo.

Ps – foto do Nadal é da Cynthia Lum – nossa fotógrafa que está em Roland Garros. Acompanhe também o blog dela direto de Paris: http://cynthiasinsiderblog.wordpress.com/

 

 

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