Faz tempo que não vemos uma revelação surgir pelas quadras do mundo. Fora o australiano Bernard Tomic, único tenista com menos de 20 anos entre os top 100 e o único que chegou à segunda rodada de Roland Garros, está cada vez mais difícil ver sensações “teens,” como foi o próprio Rafael Nadal, que aos 16 anos já chamava atenção no circuito. Aqui em Paris, pelo contrário, só se fala nos trintões.
O Grand Slam francês bateu recorde de tenistas com mais de 30 anos na chave principal. Foram 37, com o mais velho sendo Marc Gicquel, aos 35. Há 10 anos, eram apenas 11 com mais do que 30 anos na chave principal.
Fui a algumas entrevistas coletivas e li um pouco para tentar compreender o fenômeno dos mais “experientes.”
Tommy Haas, de 34 anos, acha que a idade é apenas um número e como passou alguns anos lutando contra lesões, está mais fresco mentalmente. “Acho que mentalmente, em relação ao esforço mental, ao cansaço do circuito, devo ter uns 29, 30 anos.”
Arnaud Clement, que disputou nesta quinta-feira o seu último Roland Garros, aos 34 anos, afirma “que todos nós, para estarmos jogando com essa idade, temos uma paixão enorme pelo esporte.”
Há quem diga que é pelo dinheiro, mas todos negam. Juan Carlos Ferrero, por exemplo, lembra que há 10 anos fazia muito mais dinheiro do que faz hoje. “Com a minha idade não é o que me motiva.” James Blake concorda. “Tive muita sorte de poder ganhar dinheiro jogando tênis, mas nunca foi o meu motor. Quero jogar até não ter mais nenhuma possibilidade e nenhum arrependimento de não ter tentando até o fim.”
Mais experiente e campeão em Roland Garros, o sueco Mats Wilander, em entrevista ao jornal L’equipe acha que o sucesso dos trintões se deve ao fato deles aguentarem mais o tranco, serem mais guerreiros.
Mais novo entre esses trintões, Roger Federer já mostrou interesse inclusive em jogar as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. “Nunca tive muitas lesões e sempre me diverti jogando tênis. Mas, o tempo passa. Lembro de estar aqui jogando contra o Rafter. Eu jogava diferente naquela época. Agora estou jogando contra tenistas de uma outra geração e ainda vou jogar com outros.”
Ainda a alguns anos de chegar aos 30, John Isner acha que a razão para não termos tantos adolescentes se destacando é física. “O jogo se tornou muito, mas muito físico e o seu corpo tem que estar pronto. Com 18, 19 anos o tenista ainda tem que amadurecer física e mentalmente.”
Para Juan Mônaco, com 28 anos, é também uma questão de experiência. “Ainda não estou com 30, mas posso falar por mim. É bem diferente você jogar aqui, por exemplo, com a experiência e a mente fortalecida.”
Há outros como Julien Benneteau, 30 anos, que acreditam estar menos pressionados com essa idade. “Já passamos por muita coisa e nos tornamos menos ansiosos.”
Será que alguém com mais de 30 anos vai ganhar Roland Garros neste ano? O último foi Andres Gomez, em 1990, que aos 30 anos derrotou Andre Agassi na final.
Foto de Cynthia Lum