Já se passaram 10 anos, mas lembro deste dia como se fosse hoje. Afinal, foi um dos dias mais marcantes dos meus 13 anos de trabalho com o Guga e essa é uma das únicas fotos que tenho daquele dezembro do ano 2000.
De uma semana que começou preocupante, com uma derrota para o Agassi na estreia quase levando ao abandono da competição, para a final foram muitos momentos de tensão, indagação, perguntas sem respostas e de repente tudo havia mudado e Guga estava na final.
Uma final contra Andre Agassi, no Masters, onde só jogam os oito melhores do mundo e ainda com chance de se tornar número um do mundo, que era algo praticamente impossível de acontecer.
Como escrevi na abertura da materia da edição 109 da Tennis View, na “viagem pela temporada do Guga do ano 2000,” apesar de lembrar de cada detalhe daquela semana em Lisboa, de enxergar bem claro na minha mente os momentos, a sala de imprensa, o corredor que levava à quadra, ao vestiário, ao lugar de pegar o carro e voltar para o hotel, entre outros, parece algo tão distante, imaginar que um brasileiro foi número um do mundo. Que um brasileiro ganhou do Sampras e do Agassi na sequência e se tornou o primeiro jogador da América do Sul, da história, a terminar uma temporada como número um.
Será que temos essa sensação porque depois disso o nosso esporte teve seu momento de crescimento, mas ficou estagnado, porque não vivemos uma outra “Guga mania” na sequência?
É talvez seja, mas não é o momento de debater essa velha questão.
Acredito que dias como esse 03 de dezembro que marcam 10 anos de uma conquista histórica, inédita para o esporte no Brasil, alavanquem coisas boas para o tênis, com toda a repercussão que está tendo.
E na época? Foi uma loucura. A sensação que eu tive quando o Guga ganhou do Sampras e depois do Agassi, foi incrível. Foi diferente. O nível de trabalho e de exigência também. O volume de trabalho foi como se ele tivesse ganhado Roland Garros daquela primeira vez. Uma loucura, porque foi inesperado. Nem bolo a ATP tinha preparado para a festa. Tiveram que correr atrás no último minuto, afinal estava tudo pronto para o Safin comemorar.
E eu fazia parte de todos esses detalhes; de organizar as ações, a foto com o bolo, champagne, família, entrevistas com veículos brasileiros e estrangeiros, entradas ao vivo… etc..
Vendo as inúmeras imagens na televisão e em fotos, com o meu cabelo bem loiro – como dizem alguns amigos, ainda bem que os anos passam e a gente melhora – é fácil achar que o trabalho era só aquele momento de assistir o jogo e vibrar junto com o Larri e a família.
Era só o começo de um dia longo, empolgante e estressante. O meu trabalho, quando o jogo acabou, estava apenas começando… Trabalho que tive muito orgulho de fazer.
Além de gerenciar as entrevistas do momento, atender a incontáveis telefonemas de pedidos de participação em programa de televisão, mais entrevistas, entre outros, todo mundo queria saber onde seria a festa de comemoração – pelo menos desta vez, diferente das conquistas em Roland Garros, pelo menos eu tive tempo de voltar ao hotel e trocar rapidamente de roupa para comemorar também, das outras vezes fui direto do torneio – , quando o Guga voltaria ao Brasil, etc…
A história todos já conhecem. A festa foi íntima, um jantar com alguns amigos na região portuário de Lisboa e viagem cedo no dia seguinte para o Havaí, enquanto todos o esperavam no Brasil. As férias do Guga começavam e a caça a ele pelo Brasil e pelo mundo também.
Ele estava de férias. Eu não podia divulgar onde ele se encontrava. Foram uns cinco dias daqueles de querer atirar o celular na piscina, em que minha orelha ardeu muito, mas afinal o que eu podia responder aos jornalistas a não ser – não sei quando ele volta e não posso dizer onde ele está?
Até que a ESPN Brasil descobriu-o no Havaí e acabou o mistério.
Dias depois ele desembarcava em Florianópolis onde o então Presidente, Fernando Henrique Cardoso o aguardava com uma camiseta “Arrombassi Guga.”
Sim, o Presidente da República, o aguardava em Florianópolis, com uma camiseta homenageando-o.
Precisa dizer mais alguma coisa?
E só para complementar. O ranking da ATP daquele ano 2000 terminaria assim:
1 – Gustavo Kuerten (BRA)
2 – Marat Safin (RUS)
3 – Pete Sampras (EUA)
4 – Magnus Norman (SUE)
5 – Yevgeny Kafelnikov (RUS)
6 – Andre Agassi (EUA)
7 – Lleyton Hewitt (AUS)
8 – Alex Corretja (ESP)
9 – Thomas Enqvist (SUE)
10 – Tim Henman (ING)
11 – Mark Philippoussis (AUS)
12 – Juan Carlos Ferrero (ESP)
13 – Wayne Ferreira (AFS)
14 – Franco Squillari (ARG)
15 – Patrick Rafter (AUS)
16 – Cedric Pioline (FRA)
17 – Dominik Hrbaty (ESL)
18 – Arnaud Clement (FRA)
19 – Sebastian Grosjean (FRA)
20 – Nicolas Kiefer (ALE)