Nunca fui muito fã de Lleyton Hewitt. Durante certa época, achava quase insuportável ouvir aquele C’mon. Mas, no caso dele, o currículo fala por si só.
E no meu caso, gostando ou não, foi um dos jogadores que vi crescer no circuito.
Lembro quando publicamos na Tennis View, em 1998, a foto dele, com 16 anos, para retratar a vitória no ATP de Adelaide. Ele era um fenômeno.
Naquela época, Guga já havia ganhado o primeiro Roland Garros, então nos acostumamos a ver o Hewitt sempre, seja jogando, nos hotéis, sala dos jogadores, enfim, no circuito, de perto.
Rapidamente ele se tornou herói na Austrália, ganhou o US Open e Wimbledon, tirou Guga do topo do ranking mundial (no fim de 2001, com a Masters Cup em Sidney), e reinou por várias semanas na ATP.
Ficou noivo de Kim Clijsters, o que me fazia pensar que ele não devia ser tão difícil assim, com aquela imagem de durão, um pouco anti-social..
Continuou conquistando títulos, terminou o noivado, casou com uma atriz australiana, hoje Bec Hewitt – inclusive o site do tenista é junto com a esposa – wwww.lleytonandbechewitt.com – , sempre representando a Austrália com orgulho nos confrontos de Copa Davis e começou a se lesionar.
Foram lesões no pé, no quadril e umas três operações nos últimos anos.
Anos em que foi aumentando também o número de filhos. Hoje tem 3 crianças com Bec.
Não sei se foram os filhos – muitos mudam para melhor com a paterninadade ou maternidade -, as lesões que o afastaram das quadras por vários meses, ou o próprio amadurecimento. Mas, Lleyton Hewitt, que nem sempre teve apoio unânime do público na sua própria casa, parece ter reconquistado esse carinho.
E não só pela vitória de hoje sobre Milos Raonic por 4/6 6/3 7/6 6/3.
Talvez, por ao longo dos anos, ter mostrado sempre em quadra o seu coração. Mesmo na derrota na final em 2005 para Marat Safin, no Melbourne Park, sua única chance de conquistar o Grand Slam de casa.
Como ele mesmo afirmou após a vitória em quatro sets sobre o canadense de 21 anos e 1,98m, ninguém apostaria que ele estaria na segunda semana do Grand Slam quando o torneio começou. “É muito especial porque só eu e a minha equipe sabemos o que precisamos fazer para eu chegar até aqui. Há algumas semanas eu não sabia nem se poderia jogar o Australian Open.”
Ex-número um do mundo, hoje na 181ª posição, ele precisou de um wild card para entrar na chave principal em Melbourne.
A última vez que um tenista convidado chegou tão longe na chave, foi Mats Wilander, em 1994.
A próxima rodada é um desafio ainda maior para o lutador Hewitt, o número um do mundo Novak Djokovic.
Mas, independente do resultado daqui para frente, é sempre bom ver um ex-número um do mundo, um tenista que durante uma certa época era quase imbatível, brilhando mais uma vez e mostrando porque apenas poucos, muito poucos, chegam a ocupar o posto mais alto do ranking mundial. Eles tem alguma coisa a mais dentro deles, que faz sim a diferença.
Enfim, fã ou não de Hewitt, foi emocionante vê-lo avançar, sabendo de todo histórico da carreira dele. Afinal, quem não gosta de histórias de superação?