Não tem como assistir o Masters 1000 de Cincinnatti e não lembrar da vitória do Guga há 13 anos. Claro que tem vários torneios que ele ganhou e a gente sempre assiste na TV, mas as circunstâncias daquela vitória de 2001 foram especiais.
O lugar onde o torneio é disputado já é fora do comum. É um Masters 1000 no Meio-Oeste americano, no meio do nada. Ao ler esta semana a matéria de Ben Rothenberg, no New York Times, sobre o restaurante que todos frequentam, o Applebee’s, em frente ao hotel oficial do evento, o Marriott, ler John Isner falando da sensação de estar em casa, fiquei ainda mais saudosa.
Parece mentira, mas o hotel oficial fica mesmo em uma saída de uma Interstate. A cidade de Cincinnatti a gente só visita no caminho do e para o aeroporto. Tudo acontece nesta saída da Interstate e o caminho para o Lindner Family Tennis Center. São alguns hotéis e algumas cadeias de restaurant. Alternávamos jantares no Applebee’s, no Cabarras e no Lone Star, ambos do outro lado da avenida do hotel. Era uma parada do circuito sem muito glamour, bem diferente do Masters 1000 canadense e dos Masters 1000 europeus. Havia o golfe como distração, um ou outro show de música – chegamos a assistir Counting Crows e Macy Gray – e só. O parque de diversões que dá para ver das quadras, só depois que o torneio terminasse. O resto era tênis o dia todo.
E foi muito tênis que o Guga jogou para ganhar aquele torneio de 2001.
Olho para a chave e até hoje fico surpresa com a quantidade de jogadores tops que ele venceu para erguer o trofeu. Começou ganhando de Andy Roddick, para quem havia perdido na semana anterior no Canadá; depois venceu Tommy Haas, Goran Ivanisevic e Yevgeny Kafelnikov para chegar à semi.
Fazia muito calor e a umidade lá é altíssima. Era o sábado da semifinal e o jogo do Guga contra o Tim Henman estava marcado para a noite. Lembro de estar, à tarde, no complexo. O Guga já havia aquecido, o Rafter já havia vencido o Hewitt e estava na final, eu subia e descia a escadaria da sala de imprensa inúmeras vezes, esperando a hora do jogo chegar. Até que havia bastante imprensa brasileira em Cincinnati. O Guga era número um do mundo, cabeça 1, logo depois viria o US Open, enfim, as atenções estavam voltadas para ele. Tinha muito trabalho e não contávamos com as ferramentas de mídia social para divulgar as informações. Era email e muito telefonema.
A noite estava chegando, o jogo começou e Guga venceu o 1º set por 6/2. De repente veio uma tempestada daquelas fortíssimas. Guarda-sol voou, cadeiras boiaram, carros “nadaram”, enfim, a chuva veio com tudo e o jogo não recomeçava. Ninguém sabia o que seria feito. Afinal, Rafter já estava descansando no hotel há tempos e Guga e Henman ainda não haviam terminado a partida. Depois de muita espera, quase meia-noite, e muitos raios e trovões resolveram deixar o jogo para o dia seguinte. Mas, não mudaram a final para segunda-feira. Guga jogaria a semi e a final no mesmo dia.
Guga voltou à quadra no fim da manhã, perdeu o 2º set por 6/1 e só venceu o 3º no tie-break. O Henman era um adversário que ele sempre tinha dificuldade.
Todos já davam a vitória certa para Rafter e esperavam que Guga fosse pedir um bom tempo de descanso. Aí que veio o grande saque de Larri Passos. Pediu que o jogo fosse disputado praticamente em seguida. Lembro de chegar à quadra para assistir a partida com o jogo já em andamento. Mal acabara de escrever o press release sobre a semifinal e o Guga já estava jogando a final.
Quente do jogo com Henman, Guga não deu qualquer chance a Rafter. Venceu o australiano por 6/1 6/3, ouvindo o treinador pedir para fazer “marreta”- ir com tudo para as devoluções. Deu certo e ele conquistou o título em Mason, Ohio.
Depois da loucura que foi o fim de semana, com tanta diferença de horário entre uma semi e outra os torneios, por um bom tempo, mudaram a programação para que isso não acontecesse mais. Mas, parece que já se esqueceram daquele torneio de 2001. Ferrer já está na final e Federer e Raonic só jogam à noite. Mas, ao que parece, nenhuma tempestade está prevista para este sábado em Ohio.