Por que gostamos tantos desses jogos?
Eu não era a única. Estava vendo diversos comentários e um monte de gente comentando que o Australian Open, até então, não estava empolgando. Bastou esse jogo de 4h43min, em que Gilles Simon venceu a batalha épica francesa contra Gael Monfils, por 6-4 6-4 4-6 1-6 8-6 ,que tudo mudou. Já estou louca para que chegue a próxima rodada para ficar grudada na TV.
Sou acostumada, todos os anos, a dormir tarde, acordar cedíssimo para ver os jogos noturnos de Melbourne, a passar duas semanas com o relógio todo errado. Mas, neste ano, o Australian Open ainda não havia me fisgado. Pensei que talvez fosse por ter voltado de Londres sem ter feito preparação alguma, ou seja, lido sobre tênis durante duas semanas ou assistido jogos na TV. Nada disso. Era o torneio que ainda não havia empolgado mesmo.
Claro que todo mundo gosta de ver uma exibição de gala de Roger Federer, Maria Sharapova, Novak Djokovic, Andy Murray, Serena Williams. Mas, eses jogos tão breves e unilaterais não mexem com as nossas emoções, não nos fazem acordar cedinho e não cair no sono de novo. Amanhã mesmo não vamos nem lembrar, na ponta da língua, de quem a Sharapova ganhou de 6/0 6/0 na primeira rodada.
Quem se lembra dos adversários fáceis que Federer enfrentou em 2008? Pouquíssimos acredito. Mas, todos se lembram do jogo épico entre Lleyton Hewitt e Marcos Baghdatis que varou a madrugada em Melbourne.
Não precisamos nem ir tão longe. Não consigo dizer, sem ter que pensar um pouco, de quem Rafael Nadal e Novak Djokovic ganharam antes de chegaram à semi do Australian Open e fazerem o jogo mais longo de uma final de Grand Slam todos os tempos.
Diante de todos esses aspectos e do jogo entre Monfils e Simon, fiquei pensando, o que torna essas batalhas de gladiadores, de super-atletas, tão interessantes para o ser humano? Monfils e Simon, jogando 4h43min, não estavam apresentando um tênis do mais alto nível.
Eu mesma estava assistindo o jogo naquele estado, na cama, com um olho aberto e outro quase fechando. Até que no meio do terceiro, set, acho que no 3/3, reparei no Monfils agachando, se alongando e pensei.. Ih, esse cara está cansando, o jogo pode ficar interessante, porque o Monfils é lutador, vai correr agora atrás de todas as bolas. Foi o que aconteceu.
O que vimos em quadra foram dois tenistas transformados em super atletas, indo além dos limites, ninguém querendo sair de quadra sem lutar até o final, sem desistir, jogando na adrenalina, esquecendo as dores, mostrando fragilidade ao ter cãibras diante das telas do mundo todo, mas continuando a jogar.
Queremos torcer para um, mas ao mesmo tempo não queremos ver o outro que está lutando da mesma maneira intensa, perder.
Talvez, ao assistirmos jogos que fogem ao comum, apesar de estarmos vendo atletas superando os próprios limites, nos sentimos mais próximos deles, quando eles deixam transparecer as emoções. E em jogos épicos, não há como escondê-las.
Por isso que os Grand Slams e a Copa Davis são diferentes e os jogos em cinco sets nas finais do Masters 1000 também eram.
Alguns vão dizer que estou sendo imediatista e que agora o Simon não vai conseguir se recuperar para enfrentar o Murray nas oitavas-de-final. Pode ser que não consiga e dificilmente, com seu frágil corpo, estará em condições de jogar de igual para igual contra o campeão do US Open. Poucos conseguem se recuperar, como fez Rafael Nadal após vencer Fernando Verdasco na semifinal, em cinco longuíssimos sets e ganhar o campeonato, alguns anos atrás. Mas isso faz parte do jogo e vira uma outra questão para muito mais discussão.
O ponto agora é admitir que adoramos assistir essas batalhas e que era isso que o Australian Open precisava. Jeremy Chardy até venceu um jogo e tanto, em cinco sets, contra Juan Martin del Potro, mais cedo em Melbourne, mas foi longe de ser uma batalha heróica.