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Nadal – Imagina na temporada de saibro

Há alguns dias, no Rio, Bjorn Borg afirmou, sem titubear que Rafael Nadal seria favorito em Roland Garros.  Os colegas jornalistas, ao meu lado, incrédulos, questionaram o sueco mais uma vez, compararam com a afirmação contrária do compatriota Mats Wilander e Borg manteve a sua posição.  O seis vezes campeão de Roland Garros ainda nem havia visto Nadal jogar muito em Indian Wells. Neste domingo ele disputa o título contra Juan Martin del Potro. A quarta decisão desde que voltou a competir, depois de sete meses de ausência do circuito, lesionado.

Nadal Indian Wells

Da mesma maneira que voltou aos eventos, na temporada de saibro, no início de fevereiro, no Chile, humilde, dizendo que o normal seria perder, Nadal continua se surpreendendo com as próprias vitórias. Claro que elas mudaram de nível. De jogadores, em sua maioria sul-americanos, que ele nunca havia visto ou ouvido falar até vê-los do outro lado da rede, Nadal ganhou nas últimas semanas de Almagro, Ferrer, Gulbis, Federer e Berdych (64 75).

 

A movimentação e os golpes que até pareciam estranhos em Viña del Mar e no Brasil Open foram voltando ao normal e de um tenista que foi derrotado por Horacio Zeballos, que perdeu sets para Martin Alund e Carlos Berlocq, Nadal em quatro torneios já começa a voltar a ser o super campeão que ganhou 7 vezes Roland Garros, completou o Grand Slam.  Aqueles dias de Viña del Mar e Brasil Open já parecem distantes. E o sucesso maior desta retomada acontece justamente nas quadras que ele mais criticou, as rápidas.

Imagina na temporada de saibro como ele estará? Temos que concordar com Borg.

Neste domingo, no deserto californiano, dos Big Four, apenas Nadal estará na decisão. Federer, Djokovic e Murray não chegaram à final. Djokovic foi superado na semi (46 64 64)por Del Potro, o mesmo que derrotou Murray. Federer, sofrendo com as costas, perdeu sem oferecer muita resistência, para Nadal.

De repente, em um torneio, os três últimos campeões de Grand Slam, não disputarão a final. Nadal, que esteve ausente desde a 2ª rodada de Wimbledon até o fim do Australian Open, é quem jogará pelo título do BNP Paribas Open, o primeiro Masters 1000 do ano.

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Nadal, a entrevista

O Jornal L’Equipe desta quinta-feira publicou uma longa e como sempre, interessantíssima, entrevista com Rafael Nadal. Realizada no Chile, pelo jornalista Frederic Bernes que acompanha a volta do sete vezes campeão de Roland Garros ao circuito, em Viña del Mar, a conversa sincera mostra um Nadal consciente das dificuldades que irá enfrentar, brincalhão com algumas constatações e com a mesma ambição vencedora.

Nadal Vina del Mar ATP

Li a entrevista e reproduzo alguns trechos..

 

Qual é o sentimento que predomina hoje? Medo? Stress? Alívio?

Medo? Não. Stress sim. Alívio e alegria, com certeza. Mas, de verdade, o tema do momento é paciência. Tenho que ir passo a passo e aceitar que não estarei no meu melhor nível logo de cara. Há sete meses que não jogo. Se eu não for humilde, não vai funcionar.

Não tenho medo. Há três semanas que meus exames estão perfeitos. A verdade é que o meu joelho esquerdo está magnífico comparado ao direito (risos). Sei que voltando agora não há risco com o tendão. Os médicos me prometeram.

 

A dor que você sente é normal? Os medicos te avisaram?

Sim, me disseram que desapareceria aos poucos. Normalmente desaparecerá até o fim de fevereiro e eu poderei me movimentar plenamente em quadra.  Só preciso dar tempo do meu tendão rotuliano se acostumar novamente a esforços violentos.

Nadal ATP return

Como você descreve essa dor?

Eu posso sentir de manhã quando me levanto, na hora do almoço ou batendo uma esquerda. Os primeiros dias no Chile foram difíceis. Treinei mal. Mas domingo e segunda, melhorou. Preciso aceitar isso. Antes eu tinha 9 de 10 dias ruins, depois 8, sete e vai baixando.

Mas, com dor ou não, o sentimento que supera todos é o da alegria de estar aqui, de treinar com os profisisonais, de jogar uma partida, sentir a competição.

 

Você nunca parou tanto tempo. Essa volta é mais estressante do que a de 2006?

Francamente? Não. A minha lesão no pé era grave. Os medicos cogitaram até um fim de carreira. Com o joelho isso nunca foi o caso.

O ponto comum das duas lesões é que ninguém encontrou a formula para me livrar das dores.

 

Nesses quase oito meses parado. Qual foi o momento mais difícil?

Foi quando compreendi que não poderia jogar as Olimpíadas. Pensei que fosse curar rápida.

O difícil foi que o meu joelho me deixou, no melhor momento da minha carreira.

 

O melhor? Você ganhou mais em 2008, 2009, 2010..

Sim, mas em 2012 eu estava jogando muito melhor. A final do Australian Open, mesmo tendo perdido, foi grande. Eu tinha ganhado Monte Carlo, Barcelona Roma, Roland Garros…

 

Se você tivesse perdido contra o Delbonis, seria grave?

Não.

 

E o seu nível de exigência? A sua ambição?
Não perdi. Isso não. Mas aqui os resultados são as coisas menos importantes. E o ranking também. Se tudo correr bem terei outros objetivos em dois meses. O que eu quero é estar 100% para jogar bem Monte Carlo e a temporada de terra da Europa. Mas aqui, o essencial é como eu me sinto e como o meu joelho reage. Perder aqui, pff, não é um problema. Sete meses parado e sem treinar a fundo, eu deveria perder aqui. Seria a lógica. O drama seria se o meu joelho fosse mal.

 

Muita gente fala do seu retorno como uma segunda carreira. É justo falar isso?

A minha carreira já é bem completa. Não tenho vontade de começar e pensar em uma segunda carreira.  Eu vou continuar essa, se vocês não acharem inconveniente. Continuo amando o jogo e tenho a mesma exigência em cada bola que bato. Se o meu joelho me permitir de jogar forte por três horas, se me permitir de jogar 100% um torneio e depois dois torneios em seguida, se eu puder correr sem pensar no meu joelho ou na dor, porque eu não posso pensar em fazer o que eu fazia antes? O fato de ter parado sete meses, quando eu estava jogando super bem, me ajuda hoje.

Nadal interview

Vamos encontrar o Nadal de antes, forte no saibro, capaz de ganhar Wimbledon, mas com dificuldade sobre quadra rápida?

Tudo depende do joelho. Se o meu joelho vai bem, me dê uma razão para eu não acreditar que possa ganhar tudo novamente? Uma apenas.

Eu passei oito anos sendo número um ou dois do mundo, eu creio que sete meses parado não me fizeram esquecer como jogar tênis. Não quero parecer arrogante. Quero dizer que penso que sou capaz de voltar a esse nível.

 

E se dissessem que você ganhará Roland Garros em quatro meses? É possível?
Não sei de nada( rs). Ninguém sabe. Porque não? Se eu jogar Monte Carlos, Barcelona, Roma e Madri como eu quero, há chances. E eu vou tentar.

 

O Wilander, na Austrália, disse que você seria um outsider em Roland Garros.

Vamos ver. Mas não preciso ser favorite para ganhar.

 

Você sente necessidade de estar entre os top 4 para evitar um Murray, Djokovic ou Federer nas quartas?

Posso voltar ao nível dos top 4, mas acho que vai ser mais difícil voltar ao top 4 do que ganhar Roland Garros.

 

Depois das finais de NY e Melbourne, alguns, como Marian Vajda, técnico do Djokovic, disse que era o fim da era Feder/Nadal e o começo da  Djokovic/Murray. Como fica o seu ego?

Meu ego está tranquilo. Isso não me atrapalha e não é injusto. É a verdade do momento. Estamos com dois jogadores nas duas últimas finais de Grand Slam. A rivalidade Federer/ Nadal acabará, mas ainda não. Só tenho um ano a mais do que Djokovic e Murray. Não é a hora de me enterrar ainda. Há oito meses eu estava em posição de voltar a ser número um do mundo. Não esqueçam tão rápido. Agora vou tentar me infiltrar na época de Djokovic/Murray (rs).

 

Você passou por anti-doping durante esse tempo parado?

Nove vezes. Três vezes de sangue e seis com urina. Bastante para alguém que está parado. Nas últimas duas semanas o controle veio quatro vezes e dois dias seguidos.

 

Você não acha que os resultados deveriam ser divulgados?

Para mim seria o melhor. Se todos os exames fossem divulgados seria o fim de uma suspeita que mata o esporte. É o que eu peço.

 

Sabe que teve gente que disse que a sua ausência de sete meses era uma sanção por doping?

Sim, esse tipo de rumor existe porque os exames não são públicos.

A ITF deveria ser transparente. Se não, isso continuará e eu terei de escutar o Christophe Rochus fazer comentários estúpidos  sem prova alguma. Acho incrível que escrevam ou publiquem essas acusações sem prova. Me mostre uma prova e tudo ficará bem.

Fotos de Jym Rydell – VTR Open by Canchantun

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A volta de Nadal. É hoje.

Wimbledon passou, vieram os Jogos Olímpicos, o US Open, o ATP Finals, a final da Copa Davis e o Australian Open. Todos esses grandes eventos – em Wimbledon, no meio da primeira semana ele já estava eliminado – sem a presença de Rafael Nadal, com uma lesão no joelho esquerdo. E hoje, depois de mais de meio ano, ou melhor, oito meses, o Rei do Saibro, o 11 vezes campeão de Grand Slam, o recordista de títulos de Roland Garros, com sete trofeus, o tenista que desafiou Roger Federer, mudou a história do esporte, volta a competir.

Nadal Monaco

A estreia nas duplas foi na noite de terça-feira, ao lado de Juan Monaco. E Nadal e o amigo argentino estrearam com vitória. Derrotaram os cabeças-de-chave 2, Frantisek Cermak e Lukas Dlouhy, por 6/3 6/2. Mas, como Nadal mesmo disse, duplas é mais tranquilo e o verdadeiro teste será no jogo de simples.

O adversário de estreia, (19h Brasília com transmissão do BandSports) o argentino Federico Delbonis – 128º na ATP –  é tão desconhecido do grande público quanto o checo Lukas Rosol (era o 100º), responsável pela eliminação de Nadal, em Wimbledon.

O torneio onde Nadal está jogando, o VTR Open, em Viña del Mar, também está longe de ser um Grand Slam, Jogos Olímpicos e um Masters 1000. Mas, para o tenista a importância é tremenda e faz todo o sentido ele ter escolhido a pacata cidade para voltar a competir (escrevi sobre isso há poucos dias aqui). O evento, no entanto, se tornou grandioso com a presença do 6º número um da história a aparecer por lá. Nadal Viña del Mar

Mais de 300 jornalistas se credenciaram para cobrir a estreia de Nadal, no Club Naval Las Salinas, de Vinã del Mar. Direitos de televisão internacional foram vendidos para diversos países que antes não colocavam o ATP chileno na grade de programação. Novos patrocinadores surgiram, os ingressos aumentaram – segundo o jornal L’Equipe, de entre R$ 40 e R$ 110,00 para R$ 120,00 a R$ 230,00. As arquibancadas também ganharam mais espaço e agora tem capacidade de 5.000 lugares (antes era de menos do que 4.000).

Recebido pelo Presidente Sebastian Piñera e hospedado numa cidade de 290.000 habitantes e jogando um ATP 250. Assim acontece a volta de Rafael Nadal ao circuito mundial.

Não sei se de fato, Federer, Murray e Djokovic sentiram a falta do adversário, mas o público certamente sentiu.

Vamos, Rafa.

Foto de Jim Rydell/VTR Open by Canchantun

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Porque Viña del Mar se transformou no lugar ideal para a volta de Nadal

Rafael Nadal não poderia ter escolhido final de semana mais discreto e lugar mais simples para retornar ao circuito mundial após sete meses de ausência se recuperando de uma lesão no joelho. Enquanto todos as atenções estão voltadas para a Copa Davis, mundo afora, Nadal já está em Viña del Mar, a maior estrela do tênis que o pequeno balneário já acolheu.

Nadal Vina del Mar

O VTR Open é um ATP 250 como o Brasil Open. Mas, nos últimos anos, especialmente depois da aposentadoria de Fernando Gonzalez, vinha sofrendo com a falta de jogadores locais, apoio financeiro e com a complicada data no calendário, logo depois do Australian Open e da Copa Davis, quase sem chances de trazer os jogadores tops para competir no Club Naval Las Salinas. O torneio tentou voltar para Santiago, onde Guga foi campeão no ano 2000, mas não deu certo e retomou a disputa em Viña.

Houve rumores de que o torneio poderia ser vendido, os organizadores, que realizam o evento desde 1993, ganhou um presente para comemorar o seu 20º aniversário: a presença de Rafael Nadal, o sexto número um do mundo a desembarcar por lá (Wilander, Rios, Courier, Moya e Guga foram os outros).

De longe, em meio aos jogos da Copa Davis e o início de folia carnavalesca no Brasil, estou acompanhando atentamente os passos do heptacampeão de Roland Garros em Viña del Mar e tentando visualizar tudo o que está acontecendo. Nadal ATP return

E ao imaginar o Club Naval Las Salinas, as modestas instalações para os jogadores e imprensa, as arquibancadas sem estruturas dos grandes torneios, o simples, mas aconchegante hotel onde todos ficam hospedados, os pequenos restaurantes no caminho entre o torneio e o hotel, a imprensa chilena ávida por qualquer tipo de notícia relacionada ao espanhol, o tratando como rock star, começo a pensar que talvez um torneio pequeno, em que te fazem se sentir em casa, era tudo o que Nadal precisava.

Apesar de parecer perto, Viña del Mar não é aqui do lado. De São Paulo, são quatro horas de vôo para Santiago e mais uma hora de carro até o local onde os chilenos aproveitam a praia. Com fuso horário e um clima de deserto seco – faz muito calor de dia e frio à noite – a sensação é de estar bem mais longe de casa. Para quem vem da Espanha, a distância é maior ainda.  Para Nadal talvez seja ideal voltar a jogar sem muita pressão, em um lugar menor – nem vamos entrar na questão do piso/saibro.

Nadal return Chile

Imagino que as matérias que estão saindo na imprensa chilena estejam até sendo divertidas para Nadal. Até material da paradinha do maior rival de Roger Federer, no caminho do Palácio de La Moneda, depois do encontro com o Presidente Sebastian Pinera, para o Club Naval Las Salinas, em um restaurante de estrada virou destaque nos jornais chilenos.  Entrevistaram o cozinheiro, o dono do restauranta, descreveram o que ele comeu e por aí vai. Nos últimos dias, os jornalistas chilenos entrevistaram quem eles conseguiram para falar sobre Nadal. Falaram com John Carlin, o autor da auto-biografia de Nadal, com os tenistas que Nadal treinou, na Espanha e no Chile, e aí me lembrei de que quando fui a Viña, com o Guga até matéria comigo fizeram e seguiam Dna. Alice, a mãe dele e uma namorada da época, por onde quer que elas andassem.

Ontem falei rapidamente com o pessoal do staff de Nadal e estavam todos felizes por estarem em Vinã del Mar, se sentindo acolhidos pelos organizadores, os irmãos chilenos Alvaro e Jaime Fillol e claro, por estarem de volta ao circuito, em um torneio pequeno, como quando começaram a se aventurar pelo mundo.

PS –a  estreia de Nadal é contra o vencedor do jogo entre o argentino Guido Pella e um qualifier

“Fotos por Jim Rydell, VTR Open por Cachantun, Vina del Mar”

 

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