Rafael Nadal foi um príncipe na derrota por 6/7(9) 6/4 6/4 2/6 6/4 para Lukas Rosol, nesta quinta, na segunda rodada do Grand Slam londrino. Saiu da quadra ovacionado pela plateia em Wimbledon, parou para dar autógrafos para os fãs e não deu desculpas na entrevista coletiva. Mas, a sensação não é das mais agradáveis de sair de um Grand Slam onde você já ergueu o trofeu duas vezes, era o cabeça-de-chave número dois, logo na segunda rodada.
Lembro de ter passado algumas situações assim com o Guga. Aconteceu dele perder cedo em alguns Grand Slams e voltar para a sala de imprensa e ter que encarar os jornalistas me olhando como que procurando uma resposta, era horrível. Ou perceber o olhar sarcástico de outros, ok, que torciam para o adversário e ficariam felizes ao ver o monte de brasileiros, normalmente barulhentos, irem embora da sala de imprensa.
Ah e depois ter que encarar o próprio jogador era pior ainda. Nunca sabia muito o que fazer ou o que dizer e os planos todos eram desfeitos.
Tinha que devolver a casa em que ficávamos com antecedência – no caso de Nadal, certamente ele havia alugado até o fim do torneio e raramente você consegue fazer o aluguel por menos de 10 dias -, mudar as passagens aéreas e toda a rotina com a qual estávamos acostumados mudava. Pior era não saber se voltaríamos para casa ou entraria um outro torneio no calendário.
Às vezes essas decisões só são tomadas no dia seguinte e o jogador, de todos, apesar de frustrado momentaneamente é o que está mais tranquilo. Sabe que foi mesmo apenas uma derrota, que há outras coisas que pode fazer no momento e que as glórias são tantas, que aproveitar uns dias a mais de descanso não vai fazer mal a ninguém.
Como o próprio Nadal disse, “foi apenas uma derota. Há coisas mais importantes na vida e ela continua. Tive talvez os últimos melhores quatro meses da minha carreira. Hoje não joguei bem os três primeiros sets e no quinto ele esteve incrível. Se continuar jogando como no quinto set, pode ganhar de qualquer um.”
As reações que encontrava na sala de imprensa após uma derrota como estas, inesperada, são parecidas com as que estão atualmente no twitter. Jornalistas se perguntando se já houve alguma derrota tão chocante em Wimbledon ou em um Grand Slam como esta.
Como poucos lembram, é uma boa maneira de observar que os triunfos ficam muito bem mais guardados do que as derrotas para jogadores não muito expressivos como o checo Rosol, 100º colocado no ranking mundial.
Surpresas assim eram mais comuns em Wimbledon antigamente, quando a quadra era mais rápida e tenistas altos e com bom jogo de saque e rede faziam estragos.
Lembraram da derrota de Sampras para George Bastl, na segunda rodada, em 2002.
Para mim é a sensação que mais se assemelha. Lembro muito bem deste dia e do zum zum zum que rondou Wimbledon. É o mesmo que está acontecendo agora.
A ITF enviou algumas estatísticas sobre derrotas de cabeças-de-chave 2 na segunda rodada. O último a perder assim num Grand Slam foi Andy Roddick, em 2005, em Roland Garros, para Jose Acasuso. Mas, não foi um choque. Roddick sempre foi alérgico ao saibro e Acasuso já era um respeitado jogador na terra batida.
O último tenista segundo pré-classificado a perder na segunda rodada em Wimbledon foi Marat Safin, para Olivier Rochus, em 2002. Mas, Safin não era tão constant como Nadal e não havia feito as últimas cinco finais de Grand Slam.
Bem, o checo de 26 anos conseguiu se tornar o centro das atenções em Wimbledon, mas sabe que nem sempre foi assim e que nem sempre será. “Tem dias que acordo e posso ganhar de qualquer um, em outros posso perder do número 500 do mundo.”
Treinado pelo ex-jogador Slava Dosedel, Rosol nunca jogou muito na grama. Perdeu cinco vezes na primeira rodada de Wimbledon e neste ano resolveu jogar os torneios preparatórios de Queen’s e Eastbourne. “Se eu jogar mais na grama acho que posso melhorar neste piso.”
Nascido em Brno, Rosol se tornou profissional em 2004 e obteve o seu melhor ranking, no ano passado, quando chegou ao 65º posto e sabe que para sair de onde está e continuar ganhando em Wimbledon precisa de consistência.
A vitória sobre Nadal ele credita ao técnico Dosedel “que assistiu muitos vídeos e me preparou muito bem tecnicamente. Me disse exatamente o que fazer,” e à concentração. “No último set estava apenas concentrado em mim mesmo. Ainda não acredito no que aconteceu.”
A Quadra Central de Wimbledon, em que Rosol “entrava antes apenas para ver como era,” se converteu no palco da maior vitória da sua carreira. “Eu nunca achei que fosse ganhar. Só não queria entrar e perder 6/0 6/1 6/0, mas acreditei em mim e estava muito relaxado. Sem dúvida é a maior vitória que já tive até hoje.”
Para Nadal, as derrotas para Djokovic nas finais dos últimos Wimbledon, US Open e Australian Open, devem ter doído muito mais.
PS – Nadal já havia perdido na segunda rodada de Wimbledon, em 2005, quando ainda estava começando a ganhar torneios. Foi para Gilles Muller.