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O Brasil Open deu sorte, e deu azar

O Brasil Open deu uma sorte tremenda com a volta de Rafael Nadal. O espanhol que não costuma jogar torneios deste nível, resolveu retomar as competições na Gira da América Latina, nos torneios no saibro, e colocou o ATP de São Paulo no calendário. O heptacampeão de Roland Garros veio e venceu.  Mas, ao mesmo tempo que aumentou a venda de patrocínios e superlotou as arquibancadas do Ginásio do Ibirapuera, tudo o que deu errado no torneio foi amplificado.

Nadal Brasil Open champion

O público brasileiro foi premiado com a vinda de Roger Federer em dezembro e a de Nadal nesta semana de fevereiro. Dois meses atrás, quando esteve em São Paulo, Federer contou ter ficado impressionado com o carinho dos fãs, mas já reclamara do calor – o Ginásio não tem ar-condicionado – e avisava que para ter um grande evento ATP por aqui melhorias seriam necessárias.

O ATP, em termos de estrelas, se comparado ao Gillette Federer Tour foi bem menor. Só havia Nadal para brilhar e em termos de Brasil, vamos colocar o tricampeão Bruno Soares.  No entanto, quando tenistas vem jogar exibições, vem apenas com exigências financeiras e como estão no País, ganhando uma fortuna, acabam tolerando muita coisa.

Tudo muda quando o torneio é oficial e tem muito mais do que os dólares em jogo. Os tenistas já não ficam tão relaxados – ninguém viu Nadal passear pelo Mercadão, por exemplo -. Cumpriu algumas obrigações com patrocinadores, apenas no hotel e no torneio e saiu para jantar em restaurantes próximos ao Renaissance.

Chegou para treinar no Ibirapuera e ficou assustado com o que encontrou no Mauro Pinheiro – quadras secundárias e de treino – e na quadra central.

Evitou reclamar muito da quadra, mas não poupou disparos para a bola escolhida pelo torneio. Mirou a ATP, culpando-a por não checar tudo antes.

Bruno Soares Brasil Open campeão

Assim como Nadal, a maioria dos tenistas que participaram do Brasil Open reclamaram da quadra e das bolas.

Mas, se Nadal não estivesse aqui, essas reclamações não teriam chegado muito longe.

E chegaram nos ouvidos da ATP lá fora, de fãs e muitos jornalistas.

Hoje, por exemplo, enquanto Nadal esperava sentado no banco dos jogadores a hora de receber o trofeu do Brasil Open, o lendário John Carlin, autor da biografia do espanhol e do clássico Invictus escreveu: “La ceremonia final del torneo de Sao Paulo es tan larga que pasarán 7 meses más hasta que Rafa reciba su trofeo.”

Outro jornalista que vive na Europa e que cobre o circuito há anos opinou: “Espantosa ceremonia de premiación en Sao Paulo. Eterna, pesada, mal hecha y con abucheos al ministro Aldo Rebelo. #Nadal sonríe gentil”

Isso porque com a presença de Nadal, o torneio foi transmitido em diversos países mundo afora, o que não acontecia antes.

Poderia ficar aqui reproduzindo alguns dos twits, comentários e emails que recebi durante a semana de reclamações das mais variadas.

Entendo que há o lado fantástico de ver o Ibirapuera lotado durante a semana toda e escrevi sobre isso outro dia. Muitas vezes todo esse falatório fica de lado, porque o que importa mesmo é o fã e o fã quer ver o ídolo – Nadal – ganhando. Foi o que aconteceu.

Mas, desta vez, acho que nem isso foi suficiente.  Os fãs também sofreram com a falta do ar-condicionado e com os ingressos não numerados. Muitos sentaram nas escadas.

É lindo para ver que há público para tênis. Mas, triste perceber a falta de serviço para com quem faz o espetáculo valer a pena, para quem os tenistas jogam.

E o Brasil Open é tão sortudo que ainda viu Bruno Soares, o brasileiro campeão de duplas mistas do US Open, erguer mais um trofeu. O primeiro no Brasil depois da conquista em New York. Mas, da mesma maneira, Bruno também reclamou da falta de respeito com ele e o parceiro Peya, que jogaram apenas a final na quadra central. E atualmente a sua voz ecoa muito mais longe.

Por tudo isso, por ter sido também o primeiro torneio que Nadal ganhou depois de quase 8 meses parado, o Brasil Open teve muita sorte. Mas, com tudo que isso repercute, muito azar também.

 

Fotos: Inovafoto 

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Muita paciência com o Nadal

Nadal Brasil Open ATPAntes mesmo de voltar às quadras, ainda em dezembro, Rafael Nadal pediu paciência. Calma para saber o momento certo de voltar a competir e agora o que ele precisa é de tempo e o público, de paciência, porque isso ele demonstrou que tem e sabe precisar. 

Desde o retorno ao circuito, na semana passada, em Viña del Mar e especialmente nesta semana, no Brasil Open, ouço comentários e recebo mensagens de fãs, jornalistas, apreciadores do esporte, entre outros, reclamando do desempenho de Nadal.

“O Nadal normal não perderia 8 games para este cara,” ou “Nossa, como ele está errando essas devoluções,” e por aí vai.

Não vamos esperar que Nadal, depois de tanto tempo parado e sem poder treinar no mais alto nível, neste período, com uma lesão rara no joelho, volte a arrasar os adversários como se acostumou a fazer nos últimos 8 anos.

Ele mesmo afirmou e para todo mundo ouvir que precisará de tempo, paciência e que ainda tem dias ruins, com dores no joelho, como foi o caso da semifinal contra Martin Alund. Já disse que não é favorito para a final contra Nalbandian. A expectativa é de que as dores diminuam ao longo das semanas e que ele chegue em forma na temporada de saibro européia.

Qualquer pessoa, quando fica sem praticar exercício, sofre no recomeço. Imagina um atleta do nível de Nadal.

E não vamos esquecer que as condições em São Paulo estão longe das ideiais. Além da altitude, tem a problemática quadra e as bolas que foram alvo de repetidas reclamações dos tenistas.

Entendo que para os fãs e a comunidade tenística seja duro ver Nadal ter dificuldade com adversários que faria de bolinha de ping pong normalmente. Foi duríssimo passar por isso com Guga, nas inúmeras tentativas dele de voltar a competir. Com a diferença de que Guga jamais voltou a ser o mesmo.  Não acredito que seja o caso de Nadal. Ou se for, ainda é muito cedo para afirmar qualquer coisa. Nadal serve Brasil Open

Nadal está dando os passos iniciais e como disse um amigo jornalista, quando se anda, se vai adiante.

Foi com este pensamento, em 1997, que Andre Agassi também deu a cara para bater e se submeteu a jogar torneios Challengers para recuperar a confiança abalada. Perdeu a primeira final que jogou, no Challenger de Las Vegas para o desconhecido Christian Vinck, então número 202º do ranking. Muito pior do que o ranking de Horácio Zeballos que ganhou de Nadal, na final de Viña del Mar, na semana passada.

Agassi ainda jogou outro Challenger, em seguida, em Burbank e foi campeão, mesmo tendo dificuldades pelo caminho.

Recomeçou passo a passo e com muita coragem de arriscar a reputação em torneios em que a maioria dos adversários são muito piores do que você e jamais imaginariam te enfrentar.

Mas, esses passos são necessários. E vale pensar que se não fosse isso, o Brasil, com seu ATP 250, provavelmente não seria brindado com a presença do heptacampeão de Roland Garros.

Por isso, muita paciência.

 

Fotos de Dália Gabanyi

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