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Quarta-feira de cinzas em Wimbledon

Não choveu, o dia não estava negro, mas esta quarta-feira de segunda rodada será lembrada para sempre como quarta-feira de cinzas em Wimbledon. O que era para ser um daqueles dias em que você não quer desgrudar da televisão, ou se está em Wimbledon, correr de uma quadra para outra, acabou se tornando num dos piores dias da história do Grand Slam. Sharapova wimbledon defeat

Fui dormir animadíssima com os jogos desta quarta-feira. Tinha tantos que queria acompanhar e com um dia meio cheio de reuniões e outros afazeres estava pensando o que eu ia conseguir ver.

Acordei cedo e mesmo assim os jogos já estavam em andamento em Londres. Fui fazer um café e quando voltei, Isner estava abandonando o jogo no 3º game – caiu e machucou o joelho e Hewitt perdia o 1º set para Dustin Brown.

Meu primeiro pensamento foi: coitado do Isner. Será que depois daquele jogo de 11h05min em Wimbledon, 3 anos atrás ele nunca atingirá o seu máximo potencial?

Em meio a twits da desistência de Hewitt começo a ver um zum zum zum de que Darcis, o belga que derrotou Rafael Nadal na primeira rodada, não vai jogar. Machucou o braço e não se recuperou.

O zum zum zum vira confirmação e a primeira coisa que me vem à cabeça é que aí está a diferença dos grandes jogadores. Eles conseguem jogar partida atrás de partida em cinco sets, torneio atrás de torneio. É a consistência e isso engloba não apenas o tênis, mas o mental e o físico.

Azarenka Wimbledon walkoverMinutos depois chega a notícia da desistência de Victoria Azarenka. A bielorrussa havia caído na primeira rodada durante o jogo contra Maria João Koehler, de Portugal e soltado um grito assustador de dor. Mas, se levantou, pediu atendimento médico e continuou jogando. O joelho piorou de segunda para hoje e Azarenka não tinha condições de jogo.

Pensei: deveria ter deixado então a portuguesa ganhar. Pelo menos teria jogo hoje contra a Flavia Pennetta.

Enquanto isso, na quadra 2, Dustin Brown, o jamaicano que joga pela Alemanha ia eliminando Lleyton Hewitt em 4 sets.

Até gosto do Brown. Acho que ele tem uma história legal e um estilo de ser e de jogar que atrai muita gente. Mas Hewitt é muito mais campeão e era a chance dele ir longe de novo. E olha que perguntaram para ele na coletiva depois da vitória sobre Wawrinka na primeira rodada, até onde ele podia ir, quase já fazendo uma projeção para chegar longe no torneio e ele não quis pensar muito na frente. Perguntaram sobre o Brown e ele disse que não conhecia, nunca tinha visto jogar. O alemão jamaicano realmente surpreendeu o australiano campeão de 2002 hoje.  Brown Hewitt Wimbledon

O dia já estava estranho. Mas ainda tinha muito jogo pela frente.

Hora de sair para a primeira reunião do dia.
Enquanto estou esperando a minha carona olho no app de Wimbledon no celular e vejo que Cilic também não entrou em quadra contra Kenny de Schepper. Penso no Goran Ivanisevic na hora. Perdeu a viagem para Wimbledon. Foi acompanhar o Cilic e só viu um jogo.

Ao mesmo tempo, Radek Stepanek abandona o jogo contra Janowicz com o placar de 6/2 5/3 para o polonês. Não morro de amores por nenhum dos dois. Stepanek nunca foi dos jogadores mais queridos do circuito e segundo Gilles Simon, na entrevista que deu ao Journal du Dimanche, há quatro dias, Janowicz assumiu esse posto agora.

Entro no carro e ao chegar para a reunião noto Ana Ivanovic perdendo para Eugenie Bouchard. Apesar de torcer pela sérvia, é sempre bom ver essas meninas novas vencendo. Ela foi campeã juvenil de Wimbledon no ano passado. E o tênis canadense vai bem.

Minha reunião começa e demora. Quando volto, Wozniacki já foi eliminada, ok, nenhuma novidade. Mas leio que está meio machucada.
Não dá tempo para prestar muita atenção. Sharapova está perdendo da portuguesa Michelle Larcher de Britto.Larcher de Britto Wimbledon

Sempre acho que essas jogadoras tops vão encontrar uma maneira de virar o jogo, ou que a adversária mais fraca vai tremer no fim.

Não foi o caso. Sharapova, como ela disse na coletiva, teve um dia ruim, “não estava lá”e a portuguesinha, sucesso como juvenil, não teve medo de vencer. Sharapova já não havia jogado tão bem na estreia contra Mladenovic. Que bom para os meus amigos portugueses. Pelo menos eles estão comemorando neste dia tão estranho em Wimbledon.

Já é hora de sair para outro afazer inadiável. Nem preciso olhar e já me informam que Tsonga não acabou o jogo com Gulbis e desistiu no quarto set. Hum interessante, o que será que o Gulbis vai dizer na coletiva. Desde Roland Garros, quando disse que os top 4 são chatos, ele não aparecia na grande imprensa. Mas a entrevista nem foi das mais espetaculares. Teve um jornalista praticamente perguntando se ele queria declarar alguma coisa, mas ele não tinha nada mais a dizer.

Quando volto do afazer, de mais uma ida ao cartório e logo antes de entrar em um conference call vejo que Federer e Stakhovsky estão empatados em 1 set. Não, será que o ucraniano de 27 anos e 116º do ranking vai endurecer o jogo contra o sete vezes campeão de Wimbledon?

Não só endureceu como ganhou. Fiquei assistindo o jogo e esperando aquele momento em que Federer ia encontrar o caminho da vitória. Pensei que fosse quando quebrou o saque do adversário no meio do quarto set, mas não. Stakhovsky não titubeou e Federer não elevou seu jogo. Federer Wimbledon defeat

E tanto se falou das quartas-de-final entre Federer e Nadal e agora os dois vão assistir pela TV o embate em Wimbledon entre não sabemos quem. Melhor não fazer previsões. Foi o que disse o suíço na entrevista. Decepcionado, mas pensando nos próximos torneios e na temporada que vem. Nenhum sinal de dizer adeus. Também nem pensei nisso, mas senti nas perguntas. Só espero que Stakhovsky não apareça com cansaço extremo ou alguma lesão para desistir na próxima rodada.

Pelo menos no jogo de Andy Murray não houve surpresas. Ele venceu Yen Hsun Lu de Taipei por 6/3 6/3 7/5. Algo normal em um dia anormal.

Com os principais jogos do dia encerrados, abro o order of play para ver se perdi algo e noto que a Kvitova também ganhou por WO. Shvedova nem entrou em quadra.

O All England Club, com tantas desistências, gente escorregando e tenistas reclamando das quadras, é obrigado a se pronunciar. Solta um comunicado dizendo que sentem pelos tenistas, mas que não acham que as quadras sejam as culpadas.“São as mesmas do ano passado e os tenistas inclusive vinham nos cumprimentando por elas .”

O que dizer, o que pensar?

Como Gulbis bem colocou na sua entrevista não polêmica, o estado de saúde dos jogadores não é novidade. Há algum tempo cada vez mais eles se lesionam.

E as estatísticas mostram que grandes abandonos são recentes.

Maior número de abandonos/desistências na Era Aberta, em um Grand Slam – US Open 2011 com 17 jogadores. O recorde de Wimbledon é de 2008 com 13 tenistas.

O recorde de abandonos/desistências na Era Aberta, em um Grand Slam, na segunda rodada é do US Open, com 14 tenistas em 2011 e em Wimbledon foram 12 jogadores em 2008.

E me perguntam do Djokovic e da Serena? Por sorte, só jogam amanhã.

Bem, com tantas derrotas, desistências e surpresas, o melhor que temos a fazer é olhar as chaves atualizadas e analisar o torneio todo de novo!

Wimbledon updated draws 0627 DRAW MS

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Heptacampeão em Wimbledon, Federer é comparado a Pelé e a Muhammad Ali

Assistimos Rafael Nadal erguer o sétimo trofeu de Roland Garros, há um mês. Neste domingo, vimos Roger Federer  derrotar Andy Murray e: levantar o sétimo trofeu de Wimbledon, conquistar o 17º título de Grand Slam da carreira, voltar ao posto de número um do mundo, com a garantia de ultrapassar Pete Sampras como tenista que mais semanas ficou no topo.  Por estas razões e pela estética, pela maneira que joga tênis, com tanta beleza e precisão, Federer começa a ser comparada aos maiores nomes do esporte do mundo, como Pelé e Muhammad Ali.

 

Essa vitória em Wimbledon, aos quase 31 anos de idade, depois de mais de dois anos sem ganhar um Grand Slam e derrotando um inglês na final, começam a elevá-lo a outra categoria de ídolo.

 

O ambiente na região do All England Club hoje era de uma final de Copa do Mundo, com a Inglaterra jogando pelo título inédito. O Primeiro Ministro David Cameron estava lá; a Princesa Kate Middleton, Duquesa de Cambridge, e a irmã Pippa, também; David e Victoria Beckham; Alex Ferguson, entre as outras lendas do tênis, como Rod Laver, foram até SW19 tentar ver a história da Grã Bretanha sendo feita diante dos olhos.

 

Não viram Andy Murray se tornar o primeiro campeão desde Fred Perry, em 1936, mas viram Roger Federer no auge de sua performance, como ele mesmo falou na entrevista coletiva após o jogo. “Acho que estou jogando o melhor tênis da minha carreira.”

 

E olha que Murray foi muito, mais muito melhor do que as outras três finais de Grand Slam que disputou. Surpreendeu muita gente, inclusive eu. Não sentiu a pressão de bispo fazendo missa para ele, de máscaras sendo vendidas com a imagem de seu rosto, de ingressos sendo comprados a 15 mil libras e a 20 milhões de pessoas assistindo o jogo pela BBC. Entrou em quadra agressivo, jogando o tênis da sua vida. Mas, do outro lado da rede estava o Pelé das quadras, jogando como o Pelé do Santos dos anos 1970.

 

Depois do jogo, Murray deixou mostrar toda a emoção e os sentimentos daquele momento único. Ganhou ainda mais afago do público, ao chorar diante de todos esses espectadores e dizer “estou chegando mais perto.”

 

Wimbledon quase viu o desfecho perfeito para uma quinzena de muito tênis no All England Club. Mas, como Federer falou “Murray ainda vai ganhar muito Grand Slam.”  

 

Mas, a sensação é de que o torneio não acabou. Daqui a três semanas, Federer, Murray, Djokovic, Nadal e os outros tenistas da ATP e WTA estarão de volta em busca da medalha de ouro olímpica e o Reino Unido torcerá muito mais pelo escocês Andy Murray.

 

Fotos Cynthia Lum

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