Um mês atrás, Andy Murray chorava de tristeza pela derrota na final de Wimbledon diante de Roger Federer. Neste domingo, o choro foi de emoção. Diante do seu público, na quadra central mais emblemática do tênis mundial, no maior evento esportivo do mundo, Murray derrotou o número um do mundo, por 6/2 6/1 6/4 e conquistou o ouro olímpico. Ganhar Wimbledon ele ainda pode, mas beijar a inédita medalha de ouro, no All England Lawn Tennis & Crocquet Club, em casa, não se repetirá. Os próximos Jogos Olímpicos serão no Rio de Janeiro, em 2016. Murray fez tudo o que podia para ouvir o hino da Grã-Bretanha tocar para ele, seguindo à risca o conselho de Michael Johnson.
A ITF lançou há um mês um livro com alguns tenistas olímpicos e os seus heróis. Murray escolheu o americano Michael Johnson. Eles haviam se conhecido através do então técnico do escocês, Brad Gilbert e Murray nunca se esqueceu daquele momento, nem Johnson.
Alguns destes heróis olímpicos foram humildes o suficiente para agradecerem a homenagem de quem os havia escolhido e Johnson escreveu uma carta para Murray, dando conselhos para as Olimpíadas de Londres.
“Competir em uma olímpiada, em casa, foi a maior honra que já tive, o ponto alto da minha carreira e também fiz um pouco de história em Atlanta, em 1996. Espero que você possa fazer o mesmo em Londres – nós sabemos que será histórico se um inglês ganhar em Wimbledon. O meu conselho para você seria o de fazer tudo o que estiver ao seu alcance, para aproveitar ao máximo esta oportunidade e fazer história na frente do seu público.”
Pode até parecer fácil, lendo as palavras de Michael Johnson e se realmente não tivesse feito tudo o que estava ao seu alcance para chegar ao olimpo, muito provavelmente não estivesse lá.
Murray já tinha vivido uma experiência olímpica, em Beijing, perdendo na primeira rodada para Yen Hsun Lu, por 7/6 6/4 e depois admitiu, durante Wimbledon deste ano. “Obviamente eu aprendi muito sobre o quanto era importante para mim com a derrota nos últimos Jogos Olimpícos. Me machucou muito. Quando eu vi a reação de outros jogadores no pódio, mesmo Roger vencendo o ouro nas duplas. Se ele ganhasse um Grand Slam em duplas eu não acredito que seria tão emotivo. Mesmo Novak vencendo o bronze e se derramando em lágrimas. Você não veria isso se ele perdesse na semi nos Grand Slams. Então significa muito para os jogadores”
A final perdida em Wimbledon, há 28 dias para Roger Federer, poderia ter tornado a participação olímpica difícil de administrar. Apesar de ter ganhado a admiração do povo britânico com a performance diante do suíço e a emoção demonstrada em quadra, a pressão poderia ser ainda maior pelo ouro olímpico, e foi.
Mas, Murray soube se preparar. Depois de confessar ter chorado a noite toda quando Wimbledon terminou e ter ficado mal durante alguns dias, procurou fazer coisas for a do tênis para se divertir. Até show de comédia ele foi assistir com a namorada Kim Sears e os amigos para descontrair.
Ficou uma semana sem tocar na raquete e no dia 17, 10 dias antes da cerimônia de abertura, já estava treinando no All England Club. O primeiro dia foi difícil para o tenista. Ele ficou lembrando da final, pensando no que havia acontecido, revivendo as jogadas, sem uma pessoa nas arquibancadas. Mas, quando começou a treinar focado nas suas olimpíadas, deixou a derrota para trás e com uma boa razão, como ele mesmo falou, antes da final olímpica. “Como tenistas estamos acostumados a termos uma outra chance na semana seguinte, os Jogos são apenas a cada quatro anos.”
Murray também soube equilibrar a euforia dos Jogos Olímpicos com a concentração para a sua própria participação. Optou por ficar em casa, onde mora, com Kim Sears, mas indo ocasionalmente à Vila Olímpica e assistindo outros esportes, como o atletismo ontem à noite. “Se me dissessem há uma semana que eu estaria aqui, não acreditaria. Sabia que eu tinha chances de ir longe no torneio, mas estava cansado depois de Wimbledon e de jogar as duplas mistas também. Mas, em quadra, não me senti nervoso e estava fresco fisicamente também. Depois de tantas derrotas difíceis na minha carreira, não há melhor maneira do que dar a volta por cima com esse ouro olímpico.”
Para o medalhista de bronze, Del Potro, a medalha de bronze também teve um significado a mais. Além de ter sido a primeira medalha nas Olimpíadas de Londres para a Argentina, Del Potro confessou ter ficado arrasado após perder o jogo de mais de quatro horas para Federer (3/6 7/6 19/17), na semifinal. “Chorei durante umas quatro, cinco horas depois de perder aquele jogo. Estava arrasado. Não sei como consegui me recuperar e ainda enfrentar o Djokovic. Foi o apoio do povo argentino que ficou me mandando mensagens.”
Para uma nação fanática por esportes, que idolatra seus campeões e com uma tradição no tênis, maior do que muito esporte, a medalha de bronze teve sensação de ouro.