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“Murray ainda vai melhorar muito” – quem disse foi Emilio Sanchez, há oito meses

Esse post é a reprodução da coluna do Emilio Sanchez, publicada na edição 117 da Tennis View. Vale a pena ler as observações que Sanchez, que treinou Murray, faz sobre o finalista de Wimbledon, nessa véspera de final histórica contra Federer.  Emilio inclusive previu que Murray melhoraria muito e que disputaria as vagas nas finais e os títulos de Grand Slams com mais chances de vencer os tops neste ano.

 

“Estou aqui sentado na minha academia, a Sánchez-Casal, tentando me recordar dos momentos interessantes, que Andy Murray teve conosco. E a grande evolução dele foi em 2003.

Ele chegou um dia com a sua mãe na academia. Ela estava confiante e ele tinha muitas dúvidas. Eu me lembro daquele menino que quase nem me olhava, que estava assustado em chegar num país estranho, de iniciar uma nova aventura, mas como as fronteiras desaparecem dentro da quadra de tênis, pois são iguais em todos os locais do mundo, ele conseguiu se adaptar rapidamente ao lugar. Quando olhava para ele, achava que parecia qualquer coisa, menos um tenista, mas dentro da quadra, ele mostrava todo o seu talento.

Sua mãe Judy, ex-tenista, que treinava os jogadores juvenis de seu país e também trabalhava para a Federação de Tênis da Grã Bretanha, sabia que deveria fazer com que Andy mudasse do ambiente em que vivia na Inglaterra, tirá-lo da pressão da imprensa inglesa, querendo que Andy fosse um a mais no grupo, que não fosse diferente, que se misturasse com os outros jogadores de nível.  Além disso, devia conseguir que seu filho se movimentasse em quadra como os espanhóis, que fosse um gladiador na quadra e sabia que a Espanha era o melhor lugar para isso. Judy apostou na nossa academia, pois estava convencida que aqui daríamos tudo o que ele precisasse.

A primeira vez que joguei com ele, me apareceu na quadra um menino magro, alto, desengonçado, com as pernas juntas e que só olhava para o chão. Eu tentei fazer algum comentário para impressioná-lo, mas sua resposta me deixou pensativo; aqui tem alguma coisa, pensei, tem caráter. Então, começamos a bater bola, não havia nada de especial nele, golpes normais, que pena, pensei. Mas, como eu gosto de medir os jogadores numa partida, tentei novamente instigá-lo. Perguntei a ele se ele gostaria de jogar um set e ele respondeu “pensei que você não se atreveria a jogar contra mim!”.  Ele tem confiança, pensei e fiquei animado.

Começamos a jogar. Vou ganhar, com certeza, pensava. Mudava as alturas das bolas e ele respondia, o atacava e ele se defendia melhor, o trazia para a rede e ele voleava melhor, era difícil para ele correr nas deixadas, mas era explosivo e acabaria aprendendo, não sacava muito forte, mas a execução do movimento era quase perfeita, quando ficasse mais forte, sacaria muito bem. A verdade é que fiquei impressionado, ele tinha algo de especial, além do mais era ganhador e quando aprendesse a canalizar as energias, seria duríssimo de ser vencido. Melhor, vou dizer o que aconteceu…

Aquele dia, fui para casa com um sorriso no rosto, se conseguíssemos dar a este garoto os valores básicos de um tenista espanhol, seria espetacular. Além do mais, em poucos dias que estava treinando com a gente, mostrou seu companheirismo, sua humildade e se conseguíssemos que trabalhasse de forma contínua, melhoraria muito. Foi a parte mais difícil, que ele se acostumasse com as rotinas de treinos, algumas vezes precisamos buscá-lo no quarto para vir treinar, outras vezes precisávamos perseguí-lo para quase obrigá-lo a treinar, ele precisava se acostumar à vida dura. Mas, quando ia aos torneios, era quando dava o melhor de si, essa parte tão difícil de ensinar, já tinha naturalmente.

Se analisarmos Andy Murray hoje em dia, nos damos conta que depois desse anos, ele segue mantendo tudo de excepcional que tem em seu jogo, é muito agressivo com o serviço e domina seus adversários e quanto mais alguém o ataca, melhor se defende. Se nos Grand Slams conseguir manter a constância com a agressividade como fez nos últimos meses nos torneios ATP, teríamos quase que com certeza o primeiro inglês a ganhar um grande torneio deste porte, desde Fred Perry. Eu sou um daqueles que defendem que ele ainda irá melhorar. Além disso, precisamos levar em consideração que ele joga em uma era de grandes jogadores da história, Nadal, Federer e se em alguma ocasião eles não estiveram presentes, Andy ainda encontra com um Djokovic quase superior do que os melhores. De um lado, penso que é sorte triunfar no tênis em uma época tão maravilhosa como a atual, coincidindo com os melhores jogadores da história, que obrigam os demais a subir o nível, mas por outro lado, é falta de sorte, apesar do tênis de alto nível de Andy, é muito mais difícil para ele ganhar um Grand Slam.

No ano que vem, em 2012, estou certo que nos torneios grandes Andy vai enfrentar seus três maiores rivais com maiores chances de vencê-los; chegou seu momento e no Masters que é disputado em seu país, é o principal candidato para o título.

Gostaria de terminar ressaltando que, mesmo chegando no topo, Andy sempre ajudou seus amigos, ex-companheiros de colégio e de residência da academia. É muito ligado aos seus amigos, é fiel e boa pessoa, convidou quase todos seus amigos aos grandes torneios e segue mantendo contato com o resto. Além disso, viajou quase dois anos com Carlos Mier, seu companheiro de quarto na Sánchez-Casal e agora seu técnico é o Dani Vallverdú, outro grande amigo que fez aqui na academia. Essas são as pessoas que estão perto de Andy, que conheceu aqui e ele continua com eles, e isso diz muito sobre quem ele é.

Eu só posso agradecer pelo Andy ser dessa forma que é, porque ele, desde que decidiu seguir sozinho, sempre se lembrou de todos nós da Sánchez-Casal, então somos muito agradecidos a ele. Aqui na academia não poderíamos ter maior referência, maior modelo a seguir. Um campeão como Andy e o fato de ele se recordar do tempo em que passou aqui como um dos melhores de sua vida nos enche de orgulho e satisfação. Todos que compartilhamos do seu crescimento, o admiramos e sabemos que em breve realizará seu sonho.”

 

Abraços,

Emilio Sànchez

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Não achei que fosse ver Andy Murray em uma final de Wimbledon – É admirável, ele conseguiu!

Não achei que fosse ver Andy Murray disputando uma final de Wimbledon. Assim como os fãs que estavam na Center Court e na Henman Hill, demoraram alguns segundos para de fato acreditar no que estavam vendo diante de seus olhos, também fiquei boquiaberta com a vitória do britânico diante de Jo-Wilfried Tsonga e a conquista da vaga para a final, em que enfrentará Roger Federer em busca do trofeu que Fred Perry ergueu em 1936.

Há 76 anos os ingleses falam de Fred Perry, o último tenista do Reino, a vencer em Wimbledon. Há 74 anos, Bunny Austin marcava seu nome na história ao se tornar o último britânico a chegar à final no All England Lawn Tennis & Crocquet Club.

Vieram Roger Taylor, Tim Henman e Andy Murray.

De Roger Taylor, não posso falar. Apenas li sobre ele nos livros de história. As tentativas de Tim Henman, e a Henman Mania em Londres, eu acompanhei de perto por lá mas também, nunca achei que ele tivesse muitas chances entre Pete Sampras e Andre Agassi e admito que torci para o Ivanisevic naquele 2001 em que Sampras foi eliminado antes do tempo. O corpo meio mirradinho, embora possa parecer uma besteira, ainda mais levando em conta o eficiente jogo de saque e voleio dele, não me inspirava confiança.

E Murray também não me inspirava aquela confiança, mesmo já tendo disputado três finais de Grand Slam – duas na Austrália e uma em Nova York -, tendo vencido Masters 1000 e provado que não é afetado pela toda loucura que envolve ser um britânico jogando Wimbledon e com chances de avançar no torneio.

Achei interessantíssimo quando ele apareceu com Ivan Lendl de técnico. Como o próprio Lendl disse, Murray teve coragem de contatá-lo e de assumir a parceria, sabendo de toda a atenção que teriam.

Há duas semanas, antes de Wimbledon começar, já havia rumores do que aconteceria entre técnico e jogador caso Murray não tivesse um bom resultado em casa. O jogador acusava dores nas costas e havia perdido na primeira rodada do ATP de Queen’s.

Mas, foi só ele começar a jogar bem em Wimbledon que as dúvidas do resultado da contratação do campeão de 8 Grand Slams, pararam e surgiram, no lugar, notícias e informações sobre como Lendl tem contribuído para o jogo de Murray.

Ao que parece uma das maiores influências tem sido mental. Lendl perdeu quatro finais de Grand Slam antes de vencer a primeira. Murray já perdeu três. Lendl nunca ganhou Wimbledon, apesar de ter disputado duas finais. Tudo o que Murray está passando, Lendl já passou.

A calma e a frieza de Lendl podem servir para acalmar o britânico. Não importa o momento do jogo, a expressão do checo naturalizado norte-americano parece não mudar.

O próprio Murray disse que uma outra coisa que Lendl mudou na sua preparação durante o torneio é o fato de estar sacando menos nos treinos. “Ele me disse que o ombro precisa estar descansado e solto e que vou sacar bastante nos jogos. De fato estou sacando melhor quanto mais eu jogo.”

Mas, independentemente de Lendl, ou não, é Murray quem está em quadra jogando e sobrevivendo não só aos adversários mais à Murray Mania, aos tablóides britânicos e aguentando a pressão da possibilidade de se tornar o primeiro britânico campeão de Wimbledon, na Inglaterra.

Murray soube aproveitar muito bem a oportunidade de uma chave mais aberta e fez o que muita gente não esperava, chegou à final de Wimbledon.

O próprio Henman, que passou por essa situação há 11 anos, afirmou que Murray estava mais preparado do que ele para esse momento.

Como é interessante o nosso esporte.  

Há um mês, todas as atenções estavam voltadas para Rafael Nadal e Novak Djokovic e Maria Sharapova. Nadal foi elevado ao status de Rei de Paris, como o maior campeão de todos os tempos do torneio. Sharapova completava o Grand Slam e voltava ao topo do ranking mundial.

Neste fim-de-semana tudo muda. Federer pode erguer o seu 7º trofeu de Wimbledon; Murray pode vencer o seu primeiro Grand Slam e se tornar o primeiro britânico a triunfar no All England Club desde 1936; Nadal já foi para casa há 10 dias, eliminado por Lukas Rosol e Serena Williams, derrotada na primeira rodada em Roland Garros enfrentará uma polonesa na final, neste sábado, para conquistar o 14º trofeu de Grand Slam da carreira.

 

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